quarta-feira, 18 de março de 2015

INOVAÇÃO OU “COPIAÇÃO”?

O Brasil precisa e pode crescer mais. Existe um consenso de que para tal precisamos elevar nossa produtividade. A produtividade do país que já era baixa atualmente tem taxa de crescimento negativa.

Aumentar a quantidade e principalmente a qualidade de nosso capital físico (infraestrutura) e humano (educação) é importante, mas se não aumentarmos a nossa produtividade não cresceremos de forma sustentável. Repetiremos o eterno voo de galinha das ultimas décadas.

Como aumentar nossa produtividade é hoje “a pergunta de um milhão de Dólares” A prática internacional mostra que temos duas estratégias: inovação ou copiação. É obvio que elas não são excludentes e que a primeira é mais nobre que a segunda. A questão fundamental é qual é mais viável. Fico com a segunda.

Copiar aqui não significa replicar ou “xerocar” um produto ou processo e sim adaptar ao ambiente local um produto, processo ou organização já existente. O Ceará não inventou o caranguejo, mas criou um evento econômico que é a “quinta do caranguejo”.

Com os avanços da internet ficou cada vez mais fácil e barato “copiar”. O segredo, no entanto, é que para que a copiação vire produtividade precisamos de criatividade e capacidade de aprendizado. Alem disso precisamos de incentivos para copiar.

Dito isso, o caminho que surge é o da educação, melhor logística, ambiente de negócio estável e ágil e principalmente mais competição. No momento em que o Ceará e o Brasil estão elaborando seus planejamentos estratégicos para os próximos quatro anos (PPA) vamos torcer que produtividade a partir da copiação seja uma estratégia adotada.


O segredo não é a best practice e sim uma better practice.



segunda-feira, 16 de março de 2015

FALTA POUCO

O blog atingiu a marca de 1.000 visualizações, agora só faltam 999.000 para a marca de um milhão!!
CUSTO DE OPORTUNIDADE

No debate sobre o aquário do Ceara escutei e li afirmações que são erros elementares de raciocínio econômico. O argumento é de que não existe custo de oportunidade no seu investimento, pois ele é financiado com financiamento e não empréstimo. Fala sério!!

Como no financiamento o uso do recurso é para um propósito especifico, no caso compra e instalação de equipamentos, não faz sentido falar em custo de oportunidade que é o uso alternativo do dinheiro público. Se não pegar o dinheiro do financiamento para o aquário perde o recurso.

A verdade é que do ponto de vista das contas públicas não importa se é financiamento ou empréstimo. Os dois se transformam em dívida e vão demandar pagamento de juros e amortizações que vão inviabilizar outros gastos do governo. O custo de oportunidade existe sim.

Em momento de orçamento apertado em casa, faz sentido justificar a compra de um “carrão” pela oferta de um financiamento que só podia ser usado para isso? E o curso de inglês do filho, o seguro saúde com mais cobertura da filha, a reforma da casa?


A falta de investimento público é ruim e faz falta, mas pior ainda é a realização de investimento de baixa qualidade e alto custo de oportunidade.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O EXEMPLO DA BAHIA

Enquanto discutimos refinaria e aquário, dois projetos, hoje, inviáveis do ponto de vista econômico, os demais estados se mechem e apostam em alternativas mais promissoras. O Ceará da vanguarda se torna cada vez mais no Ceará do provincianismo.

Em momentos de crise duas coisas são fundamentais em um governo: visão estratégica e foco operacional realista. A margem de erro fica menor e a demanda por competência maior. Ficar defendendo o indefensável aquário e lamentando a ilusão da refinaria não é o caminho para alavancar nosso desenvolvimento.

Nesse sentido a Bahia nos mostra um exemplo a seguir: o Parque Tecnológico da Bahia. O Parque já é uma realidade, ocupa uma área de 25 mil m2 em localização nobre, possui plano diretor moderno e visão estratégica definida. Vai trabalhar nas áreas de Biotecnologia e Saúde, Tecnologia da Informação e Comunicação, Energias e Engenharias. Possui um pacote de incentivos fiscais que inclui redução do ISS de 5% para 2% na prestação de serviços; redução do ISS de 5% para 2% na construção de empreendimentos; isenção de IPTU; redução de até 90% no ICMS nos serviços de telecomunicações e diferimento do ICMS na aquisição de equipamentos importados.Alem disso conta com um menu de bolsas de estudos para atrair jovens e experientes pesquisadores. No segundo caso oferta bolsas de até R$14.000,00. O total de investimentos do governo do estado será da ordem de 60 milhões de Reais.


Nossos jovens de talento, que hoje dominam o ITA e IME, agora têm mais uma opção. Infelizmente ainda não é no Ceará.





quarta-feira, 11 de março de 2015

QUE MUNDO É ESSE?

Uma hipótese básica na condução de uma política monetária é que, diferente dos juros reais, o juros nominais não podem ser negativos. Na verdade era, pois hoje a prática de juros nominais negativos é cada vez mais comum. Mudou o mundo e mudaram as políticas.

Um juro real negativo acontece sempre que o rendimento de um titulo é menor que a taxa de inflação. O BNDES, por exemplo, ainda hoje oferece linhas de credito com juros menores do que a previsão de inflação. O juro nominal negativo acontece quando o titulo tem um valor de resgate menor que seu valor de emissão. Ou seja, pago mais hoje do que vou receber no resgate do titulo. Isso faz sentido? É possível? No mundo de hoje tudo é possível em termos de política monetária.

O que está acontecendo é que vários bancos centrais do mundo estão praticando o que se chama afrouxamento quantitativo (Quantitative Easing), onde assumem compromissos de comprar títulos emitidos pelos governos. Quanto maior as quantidades compradas maiores os preços dos títulos e menores os juros. Em situações extremas o valor de compra fica acima do valor de face e surge o juro nominal negativo. Mesmo sendo uma situação extrema as estimativas são de um estoque de 1,9 trilhões de Dólares de títulos com juros negativos.

Não precisa ficar preocupado pois ainda estamos longe de não ter outra opção que não comprar títulos com juros negativos. No momento quem compra a grande maioria deles são os bancos centrais. Eles o fazem porque na outra ponta estão cobrando dos bancos comerciais uma taxa para guardar reservas dos mesmos. Ou seja, se a taxa que eles cobram for maior que os juros negativos é lucrativo captar reservas e aplicar em títulos.

Enquanto isso no Brasil os juros continuam subindo, em parte porque nosso problema, diferente do resto do mundo, é excesso de demanda e não de  oferta. Surge aí o que se chama de operações de “Carry Trade”: pegar Dólar ou Euro a juros zero e aplicar em Reais. 


JUROS NEGATIVOS


sexta-feira, 6 de março de 2015

ATAQUE ESPECULATIVO?


Se tivéssemos um cambio fixo poderíamos dizer que estaríamos diante de um ataque especulativo contra o Real. Como o cambio é flutuante o Dollar captura todas as incertezas do cenário econômico. É hora daqueles que defendem a idéia que o Brasil esta livre de uma crise externa por conta das reservas de 350 bilhões de Dólares reverem seus conceitos.



UMA MANEIRA DIFERENTE DE VER A TAXA DE CAMBIO


                                                                         =



A SELIC EM 2015

Em 1993 o prof. John Taylor da Universidade de Stanford publicou um artigo que se tornou referencia para os bancos centrais na condução da política monetária. No artigo o professor defende a idéia que os BCs devem seguir uma regra explicita e fixa para a determinação da taxa de juros, no que passou a ser conhecida como a Regra de Taylor.

O fato é que atualmente todos os BCs usam uma versão da regra de Taylor para balizar suas decisões finais de fixação dos juros. Atualmente existe um projeto de lei no Congresso Americano propondo a adoção formal de uma regra tipo Taylor para o Federal Reserve.

A regra de Taylor original assume a seguinte forma:

I = r + π* + 1,5 (π – π*) + 0,5(Y-Y*)

I = taxa de juro (selic)
r = taxa de juro real
π = taxa de inflação
π*= meta da taxa de inflação
Y = PIB atual
Y* = PIB potencial

Aplicando a regra de Taylor para o Brasil em 2015 chegamos a uma Selic de 13,00%. O COPOM elevou a Selic para 12,75% de forma que falta mais um aumento de 0,25% para a regra ser validada.


REGRA DE TAYLOR NOS ESTADOS UNIDOS


terça-feira, 3 de março de 2015

IMPACTO ECONOMICO DO AQUÁRIO

Em função do debate sobre o projeto do aquário li ler o Informe Econômico No 48 do Ipece intitulado “OS IMPACTOS ECONÔMICOS DO ACQUARIO CEARÁ E SUA VIABILIDADE”. Confesso que fiquei decepcionado e garanto que o Ipece já teve um melhor controle de qualidade de sua produção científica.

O documento não faz uma análise de impacto aceitável e com um mínimo de robustez técnica. Qualquer aluno de economia sabe que dependendo das hipóteses que se assume qualquer resultado é possível e qualquer projeto se apresenta como viável.

Em resumo o trabalho assume que o aquário vai fazer com que 30% dos 1,6 milhões de turistas fiquem mais um dia no estado e que mais 160 mil passem a nos visitar, repetindo o mesmo período de tempo (3+1) dias e gastando, em média, R$ 450,00 por dia. Com isso vão gerar um impacto econômico de R$ 687 milhões/ano e criar 74 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, vão gerar R$ 66 milhões/ano de arrecadação de ICMS adicional.

Perguntas:

            a) Dos 1,6 milhões de visitantes que entram no estado temos dois grupos distintos: os turistas e os que vem a negócios. Faz sentido trabalhar esses dois grupos de forma semelhante? Quem vem a negocio pode ficar mais um dia de “folga” para visitar o aquário?

            b) A hipótese que o aquário leva os visitantes a ficar mais um dia na cidade é muito frágil. Não é mais realista considerar que no período médio da visita de três dias o visitante coloque no seu roteiro o aquário, em vez de ficar mais um dia somente para isso?

            c) O número apresentado, tendo como fonte a Secretaria do Turismo, de um gasto médio diário por visitante de R$ 450,00 é realista? Percebam que é gasto diário por pessoa. Cada casal de turista gasta R$ 900,00 por dia?

         d) É razoável supor que o aquário vai fazer com que um total de 160 mil novos turistas venha a Fortaleza apenas para visita-lo e, mais importante, vão repetir o mesmo padrão de consumo e estadia dos demais turistas?

           e) É aceitável do ponto de vista técnico dizer que usou “uma matriz Insumo-Produto” para gerar as estimativas e não apresenta-la?

            f) O pessoal da Secretaria da Fazenda concorda com a projeção que o aquário vai aumentar a arrecadação do ICMS em R$ 66 milhões/ano? A receita do aquário, venda de ingressos, vai pagar ICMS?

            g) Quem acredita que o aquário vai custar R$ 250 milhões e, como vai gerar R$ 66 milhões de ICMS adicional, seria pago em 4,5 anos?

Para efeito de comparação vejam alguns dados do Aquário de Chicago, o mais visitado do país mais rico do mundo.

                                                                       CEARÁ                     CHICAGO
1-    Numero de visitantes (aquário):                    1,2 milhões               2,0 milhões

2-    Total de turistas:                                           1,8 milhões               48 milhões

3-    Visitantes aquário/ turistas (%):                     66%                           4%                 

4-    Impacto econômico:                                    R$ 687 milhões       US$ 106 milhões

5-    Empregos (diretos+indiretos):                       74.000                       3.609

6-    Impostos:                             R$ 66 milhões (ICMS)        US$11,1 milhões (todos)



AQUÁRIO DE CHICAGO