quarta-feira, 8 de abril de 2015

PIB CEARA 2014

Acaba de ser divulgado pelo IPECE o PIB de 2014. Segundo o Instituto o PIB cresceu 4,42%. O que chama atenção foi o desempenho do PIB da agropecuária que cresceu 65%, enquanto que no Brasil esse crescimento foi zero. Dos 4,42% de crescimento a agropecuária responde por 2,6% ( 59% do PIB total).

Seria interessante que o IPECE detalhasse o PIB da agropecuária para um melhor entendimento de seu significativo desempenho.

Aparentemente, se teve seca, ela não chegou no PIB.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

AJUSTE FISCAL: ECONOMIA E PAPO FURADO

A ECONOMIA do ajuste fiscal diz que ele é necessário por dois motivos principais:

1)    Quando o nível do saldo primário das contas publicas define uma trajetória da dívida que é insustentável ou o ajuste é feito ou a trajetória vai causar a perda do grau de investimento e a partir daí uma crescente expectativa de default do setor publico. Essa expectativa vai gerar uma corrida contra os títulos públicos, juros crescentes, desvalorização cambial, inflação e recessão.

2)    O déficit publico nada mais é que poupança publica negativa que reduz a poupança domestica e aumenta a necessidade de poupança externa que nada mais é do que o déficit em conta corrente. Nesse ambiente querer corrigir o déficit em conta corrente via desvalorização do cambio só vai aumentar a inflação.

Ou seja, ser contra o ajuste é ser favorável a inflação e a recessão.

O PAPO FURADO do ajuste fiscal diz que defende-lo é ser contra os pobres e contra os gastos sociais. Uma maneira de vender essa idéia é justificar o déficit pelo aumento dos gastos sociais. Nesse caso o déficit é resultado de uma coisa boa e “pro - pobre”. O fato é que não existe essa coisa de parte boa e parte ruim do déficit. Déficit são despesas acima das receitas e o ritmo de aumento da divida publica. Não conheço nenhum caso em que uma crise de divida publica foi evitado porque o país “justificou” o déficit como sendo causado por gastos nobres como gastos para os mais pobres. Se o Brasil for por aí vai pagar um preço alto.

quarta-feira, 18 de março de 2015

INOVAÇÃO OU “COPIAÇÃO”?

O Brasil precisa e pode crescer mais. Existe um consenso de que para tal precisamos elevar nossa produtividade. A produtividade do país que já era baixa atualmente tem taxa de crescimento negativa.

Aumentar a quantidade e principalmente a qualidade de nosso capital físico (infraestrutura) e humano (educação) é importante, mas se não aumentarmos a nossa produtividade não cresceremos de forma sustentável. Repetiremos o eterno voo de galinha das ultimas décadas.

Como aumentar nossa produtividade é hoje “a pergunta de um milhão de Dólares” A prática internacional mostra que temos duas estratégias: inovação ou copiação. É obvio que elas não são excludentes e que a primeira é mais nobre que a segunda. A questão fundamental é qual é mais viável. Fico com a segunda.

Copiar aqui não significa replicar ou “xerocar” um produto ou processo e sim adaptar ao ambiente local um produto, processo ou organização já existente. O Ceará não inventou o caranguejo, mas criou um evento econômico que é a “quinta do caranguejo”.

Com os avanços da internet ficou cada vez mais fácil e barato “copiar”. O segredo, no entanto, é que para que a copiação vire produtividade precisamos de criatividade e capacidade de aprendizado. Alem disso precisamos de incentivos para copiar.

Dito isso, o caminho que surge é o da educação, melhor logística, ambiente de negócio estável e ágil e principalmente mais competição. No momento em que o Ceará e o Brasil estão elaborando seus planejamentos estratégicos para os próximos quatro anos (PPA) vamos torcer que produtividade a partir da copiação seja uma estratégia adotada.


O segredo não é a best practice e sim uma better practice.



segunda-feira, 16 de março de 2015

FALTA POUCO

O blog atingiu a marca de 1.000 visualizações, agora só faltam 999.000 para a marca de um milhão!!
CUSTO DE OPORTUNIDADE

No debate sobre o aquário do Ceara escutei e li afirmações que são erros elementares de raciocínio econômico. O argumento é de que não existe custo de oportunidade no seu investimento, pois ele é financiado com financiamento e não empréstimo. Fala sério!!

Como no financiamento o uso do recurso é para um propósito especifico, no caso compra e instalação de equipamentos, não faz sentido falar em custo de oportunidade que é o uso alternativo do dinheiro público. Se não pegar o dinheiro do financiamento para o aquário perde o recurso.

A verdade é que do ponto de vista das contas públicas não importa se é financiamento ou empréstimo. Os dois se transformam em dívida e vão demandar pagamento de juros e amortizações que vão inviabilizar outros gastos do governo. O custo de oportunidade existe sim.

Em momento de orçamento apertado em casa, faz sentido justificar a compra de um “carrão” pela oferta de um financiamento que só podia ser usado para isso? E o curso de inglês do filho, o seguro saúde com mais cobertura da filha, a reforma da casa?


A falta de investimento público é ruim e faz falta, mas pior ainda é a realização de investimento de baixa qualidade e alto custo de oportunidade.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O EXEMPLO DA BAHIA

Enquanto discutimos refinaria e aquário, dois projetos, hoje, inviáveis do ponto de vista econômico, os demais estados se mechem e apostam em alternativas mais promissoras. O Ceará da vanguarda se torna cada vez mais no Ceará do provincianismo.

Em momentos de crise duas coisas são fundamentais em um governo: visão estratégica e foco operacional realista. A margem de erro fica menor e a demanda por competência maior. Ficar defendendo o indefensável aquário e lamentando a ilusão da refinaria não é o caminho para alavancar nosso desenvolvimento.

Nesse sentido a Bahia nos mostra um exemplo a seguir: o Parque Tecnológico da Bahia. O Parque já é uma realidade, ocupa uma área de 25 mil m2 em localização nobre, possui plano diretor moderno e visão estratégica definida. Vai trabalhar nas áreas de Biotecnologia e Saúde, Tecnologia da Informação e Comunicação, Energias e Engenharias. Possui um pacote de incentivos fiscais que inclui redução do ISS de 5% para 2% na prestação de serviços; redução do ISS de 5% para 2% na construção de empreendimentos; isenção de IPTU; redução de até 90% no ICMS nos serviços de telecomunicações e diferimento do ICMS na aquisição de equipamentos importados.Alem disso conta com um menu de bolsas de estudos para atrair jovens e experientes pesquisadores. No segundo caso oferta bolsas de até R$14.000,00. O total de investimentos do governo do estado será da ordem de 60 milhões de Reais.


Nossos jovens de talento, que hoje dominam o ITA e IME, agora têm mais uma opção. Infelizmente ainda não é no Ceará.





quarta-feira, 11 de março de 2015

QUE MUNDO É ESSE?

Uma hipótese básica na condução de uma política monetária é que, diferente dos juros reais, o juros nominais não podem ser negativos. Na verdade era, pois hoje a prática de juros nominais negativos é cada vez mais comum. Mudou o mundo e mudaram as políticas.

Um juro real negativo acontece sempre que o rendimento de um titulo é menor que a taxa de inflação. O BNDES, por exemplo, ainda hoje oferece linhas de credito com juros menores do que a previsão de inflação. O juro nominal negativo acontece quando o titulo tem um valor de resgate menor que seu valor de emissão. Ou seja, pago mais hoje do que vou receber no resgate do titulo. Isso faz sentido? É possível? No mundo de hoje tudo é possível em termos de política monetária.

O que está acontecendo é que vários bancos centrais do mundo estão praticando o que se chama afrouxamento quantitativo (Quantitative Easing), onde assumem compromissos de comprar títulos emitidos pelos governos. Quanto maior as quantidades compradas maiores os preços dos títulos e menores os juros. Em situações extremas o valor de compra fica acima do valor de face e surge o juro nominal negativo. Mesmo sendo uma situação extrema as estimativas são de um estoque de 1,9 trilhões de Dólares de títulos com juros negativos.

Não precisa ficar preocupado pois ainda estamos longe de não ter outra opção que não comprar títulos com juros negativos. No momento quem compra a grande maioria deles são os bancos centrais. Eles o fazem porque na outra ponta estão cobrando dos bancos comerciais uma taxa para guardar reservas dos mesmos. Ou seja, se a taxa que eles cobram for maior que os juros negativos é lucrativo captar reservas e aplicar em títulos.

Enquanto isso no Brasil os juros continuam subindo, em parte porque nosso problema, diferente do resto do mundo, é excesso de demanda e não de  oferta. Surge aí o que se chama de operações de “Carry Trade”: pegar Dólar ou Euro a juros zero e aplicar em Reais. 


JUROS NEGATIVOS


sexta-feira, 6 de março de 2015

ATAQUE ESPECULATIVO?


Se tivéssemos um cambio fixo poderíamos dizer que estaríamos diante de um ataque especulativo contra o Real. Como o cambio é flutuante o Dollar captura todas as incertezas do cenário econômico. É hora daqueles que defendem a idéia que o Brasil esta livre de uma crise externa por conta das reservas de 350 bilhões de Dólares reverem seus conceitos.



UMA MANEIRA DIFERENTE DE VER A TAXA DE CAMBIO


                                                                         =



A SELIC EM 2015

Em 1993 o prof. John Taylor da Universidade de Stanford publicou um artigo que se tornou referencia para os bancos centrais na condução da política monetária. No artigo o professor defende a idéia que os BCs devem seguir uma regra explicita e fixa para a determinação da taxa de juros, no que passou a ser conhecida como a Regra de Taylor.

O fato é que atualmente todos os BCs usam uma versão da regra de Taylor para balizar suas decisões finais de fixação dos juros. Atualmente existe um projeto de lei no Congresso Americano propondo a adoção formal de uma regra tipo Taylor para o Federal Reserve.

A regra de Taylor original assume a seguinte forma:

I = r + π* + 1,5 (π – π*) + 0,5(Y-Y*)

I = taxa de juro (selic)
r = taxa de juro real
π = taxa de inflação
π*= meta da taxa de inflação
Y = PIB atual
Y* = PIB potencial

Aplicando a regra de Taylor para o Brasil em 2015 chegamos a uma Selic de 13,00%. O COPOM elevou a Selic para 12,75% de forma que falta mais um aumento de 0,25% para a regra ser validada.


REGRA DE TAYLOR NOS ESTADOS UNIDOS


terça-feira, 3 de março de 2015

IMPACTO ECONOMICO DO AQUÁRIO

Em função do debate sobre o projeto do aquário li ler o Informe Econômico No 48 do Ipece intitulado “OS IMPACTOS ECONÔMICOS DO ACQUARIO CEARÁ E SUA VIABILIDADE”. Confesso que fiquei decepcionado e garanto que o Ipece já teve um melhor controle de qualidade de sua produção científica.

O documento não faz uma análise de impacto aceitável e com um mínimo de robustez técnica. Qualquer aluno de economia sabe que dependendo das hipóteses que se assume qualquer resultado é possível e qualquer projeto se apresenta como viável.

Em resumo o trabalho assume que o aquário vai fazer com que 30% dos 1,6 milhões de turistas fiquem mais um dia no estado e que mais 160 mil passem a nos visitar, repetindo o mesmo período de tempo (3+1) dias e gastando, em média, R$ 450,00 por dia. Com isso vão gerar um impacto econômico de R$ 687 milhões/ano e criar 74 mil empregos diretos e indiretos. Além disso, vão gerar R$ 66 milhões/ano de arrecadação de ICMS adicional.

Perguntas:

            a) Dos 1,6 milhões de visitantes que entram no estado temos dois grupos distintos: os turistas e os que vem a negócios. Faz sentido trabalhar esses dois grupos de forma semelhante? Quem vem a negocio pode ficar mais um dia de “folga” para visitar o aquário?

            b) A hipótese que o aquário leva os visitantes a ficar mais um dia na cidade é muito frágil. Não é mais realista considerar que no período médio da visita de três dias o visitante coloque no seu roteiro o aquário, em vez de ficar mais um dia somente para isso?

            c) O número apresentado, tendo como fonte a Secretaria do Turismo, de um gasto médio diário por visitante de R$ 450,00 é realista? Percebam que é gasto diário por pessoa. Cada casal de turista gasta R$ 900,00 por dia?

         d) É razoável supor que o aquário vai fazer com que um total de 160 mil novos turistas venha a Fortaleza apenas para visita-lo e, mais importante, vão repetir o mesmo padrão de consumo e estadia dos demais turistas?

           e) É aceitável do ponto de vista técnico dizer que usou “uma matriz Insumo-Produto” para gerar as estimativas e não apresenta-la?

            f) O pessoal da Secretaria da Fazenda concorda com a projeção que o aquário vai aumentar a arrecadação do ICMS em R$ 66 milhões/ano? A receita do aquário, venda de ingressos, vai pagar ICMS?

            g) Quem acredita que o aquário vai custar R$ 250 milhões e, como vai gerar R$ 66 milhões de ICMS adicional, seria pago em 4,5 anos?

Para efeito de comparação vejam alguns dados do Aquário de Chicago, o mais visitado do país mais rico do mundo.

                                                                       CEARÁ                     CHICAGO
1-    Numero de visitantes (aquário):                    1,2 milhões               2,0 milhões

2-    Total de turistas:                                           1,8 milhões               48 milhões

3-    Visitantes aquário/ turistas (%):                     66%                           4%                 

4-    Impacto econômico:                                    R$ 687 milhões       US$ 106 milhões

5-    Empregos (diretos+indiretos):                       74.000                       3.609

6-    Impostos:                             R$ 66 milhões (ICMS)        US$11,1 milhões (todos)



AQUÁRIO DE CHICAGO


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

UM AQUARIO DE GENTE

O projeto do aquário, no formato que possui hoje, não se justifica do ponto de vista econômico e dificilmente vai ser viabilizado. O seu propósito, no entanto, alavancar o turismo e recuperar a área degradada da praia de Iracema continua super valido e importante. Como preservar-lo?
Aqui vai uma sugestão: implantar no local um centro de eventos de médio porte, único do Brasil integrado ao mar e com um potencial de beleza arquitetônica singular. Um centro de eventos (congressos, conferencias, seminários), diferente de um centro de feiras demanda um espaço de uso menor, compatível com a área existente. A taxa de uso do atual centro de feiras tem sugerido que nossa vantagem comparativa está na área de eventos e não de feiras. O que faz mais sentido em Fortaleza? Um congresso de energias alternativas ou uma feira de implementos agrícolas?
Um centro de eventos de médio porte seria mais barato e viável para uma PPP. Seria auto-sustentável em termos de custo de manutenção e teria uma bela sinergia com o Dragão do Mar (trabalho no centro e lazer no Dragão). Creio que a combinação da cidade, do local, de um projeto arquitetônico arrojado e do Dragão do Mar, tornaria o centro uma referencia no Brasil.

Com a palavra os arquitetos e urbanistas.
O DÓLAR E O DÉFICIT EM CONTA CORRENTE

O déficit em conta corrente foi recorde em 2014, atingido 90 bilhões de dólares equivalentes a 4,2% do PIB. Em função disso leio nos jornais analistas afirmando que a desvalorização do real precisa continuar para que o déficit seja reduzido. O dólar teria que ir a R$ 3,50 ou mais para reverter o déficit na balança comercial e assim reduzir o déficit em conta corrente. ERRADO!!!

O atual déficit não é causado por um cambio supostamente valorizado e sim por um desequilíbrio macro estrutural. Meus alunos da disciplina Conjuntura Econômica aprendem que o déficit em conta corrente é reflexo de uma conjuntura onde a taxa de investimento da economia é maior que a sua taxa de poupança domestica. A taxa de investimento do Brasil (18% do PIB) nunca foi tão baixa e isso é muito ruim. O problema é que a nossa taxa de poupança domestica é menor ainda, pois o setor privado tem diminuído sua poupança, hoje na casa dos 15% do PIB, e o governo tem despoupado, poupança negativa, cada vez mais. A despoupança do governo em 2014 foi recorde e atingiu o impressionante valor de 6,7% do PIB.


Nesse cenário, querer corrigir o conta corrente via cambio não vai funcionar e vai criar uma pressão maior na inflação. Temos aqui mais um motivo para um ajuste fiscal forte.

CONTA CORRENTE EM BILHÕES DE DÓLARES


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

SECA: VELHO PROBLEMA, VELHAS SOLUÇÕES

Louvável a iniciativa do Governador em apresentar na Assembléia o plano do governo para enfrentar a seca. O plano se divide em dois eixos. O primeiro de medidas emergenciais e o segundo de medidas estruturantes.
No eixo de medidas estruturantes um conjunto de projetos e ações que implicam em investimentos do tesouro do estado de um bilhão de Reais, divididos em três eixos: segurança hídrica, sustentabilidade econômica e conhecimento e inovação. Uma analise da divisão de recursos entres tais eixos nos leva ao prognóstico de que mais uma vez vamos trabalhar o problema da seca com as soluções de sempre. O eixo de conhecimento e inovação receberá aportes de 3 milhões de Reais de um total de 1 bilhão, ou seja, 0,3% do total!

Tem algo errado quando se planeja 400 milhões para um aquário e 3 milhões para inovação no convívio com a seca. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

CRISE CAMBIAL

O saudoso prof. Mario Simonsen, de quem tive o privilégio de ser aluno, dizia que inflação adoece, mas crise cambial mata. A crise cambial acontece quando, de forma repentina, o fluxo de dólar na economia se torna fortemente negativo. Depois de vários anos de cenário externo favorável corremos risco de uma crise cambial?
No passado uma crise cambial gerava de forma automática uma crise interna já que a divida publica era fortemente indexada ao dólar. Com isso a desvalorização do cambio gerava um aumento imediato da divida e déficit publico que gerava emissão de moeda que gerava inflação que gerava aumento dos juros que gerava recessão.
Atualmente a divida publica em dólar é muito pequena o que afasta o risco de uma crise fiscal. O mesmo não se pode dizer da divida do setor privado. Nesse caso uma forte desvalorização do dólar pode causar uma crise de liquidez em empresas e bancos. Do ponto de vista macro o maior risco seria no front da inflação já que uma desvalorização forte vai ser repassada aos preços em um momento em que essa já esta em níveis elevados e pressionada por ajustes de preços administrados e pela seca.
O prof. Simonsen dizia que quando o déficit em conta corrente chega aos 2% do PIB acende a luz amarela e quando chega aos 4% acende a luz vermelha. Naquela época o país não tinha reserva internacionais no nível que temos hoje, mas um déficit que já monta 4,2% do PIB certamente é preocupante. Diria que o primeiro sinal de alerta surge quando passamos a ter déficit na balança comercial, o que aconteceu desde o ano passado. O segundo é quando o déficit em conta corrente é maior que o fluxo de investimentos diretos externos, que também vem acontecendo desde o ano passado.

Não creio que estamos na iminência de uma crise cambial, mas temos que ter cuidado. Um evento, no entanto, muito provavelmente deflagraria uma: a perda de grau de investimento dos títulos públicos. Não é por acaso que um forte ajuste fiscal passou a ser a prioridade numero um da equipe econômica.




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

DOIS AQUÁRIOS, DOIS MODELOS, DUAS REALIDADES

O propósito dessa nota não é discutir a pertinência e sim mostrar caminhos diferentes que dois projetos de aquários no Brasil tomaram. Estamos falando dos aquários do Ceará e do Rio de Janeiro.
O dois modelos de aquários são um excelente exemplo de alternativas de implantação de um projeto de interesse publico. Em comum, ambos se apresentam com os propósitos de alavancar o turismo e de promoção de pesquisas cientificas. No entanto, as diferença em termos de implantação são substanciais.
O aquário do Rio se apresenta como o maior da America Latina (5,8 milhões de litros), vai ser financiado pela iniciativa privada, foi apresentado junto com um plano de negócios que entre outros fixou um valor máximo dos ingressos em R$ 40,00, vai custar R$ 80 milhões, está em andamento e tem previsão de conclusão para o segundo semestre de 2015. Ou seja, é uma realidade.
O aquário de Fortaleza se apresenta como o quarto maior do mundo (15 milhões de litros), vai ser financiado pelo governo do estado, não apresentou um plano de negócios, vai custar, ao cambio de hoje, em torno de R$ 400 milhões, está paralisado e tem previsão de só ficar pronto no final de 2017. Ou seja, ainda é uma promessa.
O que chama mais atenção são as diferenças de tamanho, sofisticação e orçamento bem como os conseqüentes custos de manutenção. Não conheço os detalhes dos dois projetos e os valores que menciono foram obtidos nos jornais locais e nacionais, mas tamanha diferença não faz sentido. Nosso público potencial é menor, somos uma economia menor e com maior restrição fiscal e nossas demandas em termos de investimentos públicos alternativos são maiores.

Na disciplina Economia do Setor Público que ministro na UFC chamo sempre atenção para a importância do conceito de custo de oportunidade (uso alternativo do dinheiro público) e para a necessidade de analise custo - beneficio (plano de negócio) em projetos que envolvam investimentos elevados. Nesse sentido, a historia dos dois aquários é muito didática.

AQUÁRIO DO RIO




AQUÁRIO DO CEARÁ


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O BRASIL PRECISA DE MAIS CONCORRÊNCIA

Reformas microeconômicas estão de volta ao debate. Essa importante agenda foi esquecida, mas agora será uma prioridade da nova equipe econômica. Dentre tais reformas destacamos uma que faz muita falta ao país: concorrência.
Concorrência é uma das condicionantes principais para o bom desempenho dos mercados. Quando essa existe os mercados alocam de forma imbatível os recursos da economia. Isso implica em bens e serviços de melhor qualidade, ao menor preço e onde eles são mais necessários.
Mais concorrência não significa menos governo, mas melhor governo. Não significa privilegiar o estrangeiro, mas priorizar o consumidor.
Precisamos de mais concorrência na educação de forma que escolas ruins sejam excluídas, por competição, por escolas com o mínimo de qualidade. Na saúde pública temos que ter mais informações sobre os custos dos serviços prestados. No transporte publico novas alternativas precisam ser incentivadas e não reprimidas.
Precisamos de mais competição em vários setores econômicos como o aéreo, bancário, refino de petróleo, automobilístico, construção pesada, etc. O mesmo acontece com uma “jabuticaba” brasileira que é o nosso sistema de cartórios.

Essa é uma agenda que o país deve abraçar: Concorrência externa e interna, dentro e fora do governo, na industria e nos serviços, para o pobre e para o rico, para o trabalhador e para o empresário.




quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

PORQUE O PIB SÓ DESCE

O PIB de 2013 cresceu pouco acima de 2%, o de 2014 deve crescer zero e o de 2015 vai ser negativo. Por quê? Aqui vão dez motivos:

1-    A história mostra que modelos de crescimento baseados na expansão do consumo alimentado por crédito, transferências de renda e incentivos fiscais, tem vida curta. No Brasil não foi diferente.

2-    Nosso problema de crescimento vem do lado da oferta e não do lado da demanda. Ou seja, não temos capacidade de, no curto prazo, aumentar a oferta de bens e serviços. Nesse caso, se aumentar a demanda o que vai acontecer é mais inflação e mais déficit externo.

3-    A taxa de desemprego mostra que o marcado de trabalho está no limite. Isso que dizer que aumentar o PIB adicionando mais mão de obra na economia não é mais viável.

4-    O crescimento do consumo é cada vez menor. A razão disso são o menor crescimento das transferências de renda, o maior endividamento das famílias, o menor poder de compra do trabalhador por conta da inflação elevada e a maior incerteza em relação ao emprego futuro.

5-    O investimento público deve cair por conta de uma maior restrição fiscal.

6-    O investimento privado vem caindo por conta de um ambiente econômico de incerteza, baixo crescimento e juros em alta.

7-    O cambio desvalorizado pode ajudar as exportações, mas não devemos esquecer que existe um efeito secundário negativo que é o aumento dos custos dos bens intermediários importados.

8-    A inflação em alta diminui a renda do trabalhador e aumenta as incertezas do empresário.

9-    Os gastos correntes dos governos federal e estaduais devem cair em função do ajuste fiscal.

10- Sem aumento de investimentos e absorção de mão de obra, o crescimento do PIB só é possível via aumento da produtividade. Infelizmente ela tem caído nos últimos anos.


O baixo crescimento do PIB esse ano é inevitável diante de um cenário de inflação alta, déficit externo elevado e contas públicas desajustadas. O governo (leia-se ministro da fazenda) sabe que, infelizmente, alguém tem que pagar a conta de excessos feitos no passado. Não fazê-lo só aumenta o tamanho da fatura e o custo do pagamento. Na economia também vale o ditado: aqui se faz aqui se paga.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015


PORQUE O DÓLAR SÓ SOBE

O Dólar nesse momento esta sendo negociado a R$ 2,86, seu maior valor nos últimos dez anos. Por quê? Aqui vão dez motivos:

1-    Um déficit em conta corrente superior a 4% do PIB.

2-    Uma grande incerteza na Europa e mesmo na China que aumenta a aversão ao risco do investidor e o faz procurar o porto seguro do Dólar.

3-    A possibilidade, cada vez maior, de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos o que aumenta a atratividade de seus títulos.

4-    O aumento do risco Brasil que já aumentou 100 pontos base e hoje esta na casa dos 320 pts. (3,2%).

5-    O aumento da inflação.

6-    Uma economia com risco de recessão, sendo pouco interessante para o investidor externo.

7-    Um cenário de incerteza política.

8-    A possibilidade de o país perder o grau de investimento, principalmente sua maior empresa.

9-    Existe uma demanda crescente por proteção cambial por parte do setor privado que se endividou muito em dólar.

1-  Como ensinava o professor Dornbusch, em momentos de incerteza acontece o overshooting do cambio quando esse se desvaloriza acima do que os fundamentos explicam.

Saudades do dólar a R$1,60!!



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

AMANHA É UM DIA D PARA O EURO

Amanha é o prazo final para a Grécia chegar a um acordo com o Banco Central Europeu que lhe permita um novo empréstimo ponte para rolar sua dívida.  No momento temos um impasse entre o novo governo grego e a Alemanha. O primeiro quer ajuda e ao mesmo tempo adiar, ou mesmo abandonar, medidas de ajustes estruturais (cortes de salários e aposentadorias, privatizações, cortes de gastos, etc.) já acordadas com o BCE e FMI. A Alemanha aceita ajudar desde que os acordos prévios sejam cumpridos. Alem disso o governo grego que renegociar sua divida trocando os atuais títulos de divida por novos que condicionem seu pagamento ao crescimento da economia.

A situação é muito difícil. Por um lado todos sabem que a divida da Grécia, superior a 170% do PIB, é impagável no curto prazo e que os custos do ajuste tem sido altíssimos para a sociedade. Por outro temos um país que tem recebido ajuda significativa nos últimos anos, que pactuou acordos e contratos e que precisa fazer reformas para ter uma economia minimamente viável dentro do Euro.

Como evitar que uma vez que a Grécia teve a oportunidade de renegociar contratos outros países como Irlanda e Portugal também não tenham essa possibilidade? Como justificar que reformas sejam demandadas em alguns países e adiadas na Grécia? Como evitar o risco de validar plataformas políticas inviáveis, mas com grande apelo eleitoral (estelionato eleitoral)? Como justificar para o contribuinte alemão que ele, que fez o ajuste e aceitou salários congelados no inicio do Euro, vai pagar a conta do contribuinte grego que não fez o ajuste e teve aumentos salariais? Como evitar uma crise de corrida aos bancos na Grécia fomentada pelo receio de depósitos em Euro serem transformados em moeda local como aconteceu com a Argentina?


O grande economista Rudiger Dornbusch tem uma frase muito apropriada para o momento da Grécia: “a crise leva uma eternidade para chegar, mas então precisa apenas de uma noite para acontecer”. Que amanha não seja essa noite na Grécia.