FIM
DE UM SONHO OU COMEÇO DE UM NOVO TEMPO?
Como encarar a decisão da
Petrobras de encerrar o projeto da refinaria? Fim do sonho do desenvolvimento ou
começo de um novo tempo e de uma nova estratégia econômica baseada no realismo
e na sustentabilidade?
Em uma postagem recente
defendi a ideia que é hora do estado refletir e desenhar uma nova estratégia de
desenvolvimento. Nada mais simbólico e confirmador desse momento do que o anúncio
do fim do projeto da refinaria. Sobre a refinaria publiquei um artigo no jornal
O Povo onde argumentava que ela seria uma ilusão de desenvolvimento rápido e fácil.
Podemos perder no curto
prazo, pois é inegável que a construção de uma refinaria implica em
significativos investimentos, contratação de mão de obra, e geração de renda.
Depois da fase da euforia da construção vem a fase da operação onde a agregação
de valor é bem menor do que se imaginava e o passivo ambiental começa a
apresentar sua conta. Basta olhar para o vizinho Pernambuco.
Nesse novo tempo precisamos
entender que temos um grande ativo: um espaço logístico já pronto, dentro de
uma ZPE já instalada e conectado a um porto competitivo em termos de custo e
logística global. O que precisamos agora é de realismo, visão estratégica, ousadia
e competência para bem utilizar esse espaço.
Em resumo perde a Petrobras
que ia ganhar quase que de graça um espaço nobre e, potencialmente, ganha o
estado se tiver competência para bem explorá-lo.
O QUE
ESCREVEMOS NO PASSADO SOBRE A REFINARIA
Do
ponto de vista econômico é interessante observar como a instalação de uma
refinaria é disputada pelos estados. Talvez pela magnitude do investimento, na
casa dos bilhões de dólares, e pelos milhares de empregos gerados em sua
construção ela é vista como uma redenção para a economia local. Nos Estados
Unidos é o contrário. Há mais de trinta anos que uma refinaria de porte não é
construída e lá os estados fazem é cobrar compensações pelo investimento,
principalmente ambientais e de segurança.
A
Petrobras certamente vai ganhar muito com a instalação da refinaria com a
oferta de área nobre no complexo industrial do Pecém e benefícios fiscais e de
infraestrutura. O estado também vai ganhar, mas a questão chave é saber o
tamanho dos benefícios e sua capacidade de alavancar nossa economia.
Imposto
a refinaria praticamente não vai pagar, seja pela oferta de benefícios fiscais
seja pela natureza de sua produção, combustíveis e derivados, que paga imposto
no destino e não na origem ou não paga nada quando é exportado. Como é um
investimento intensivo em capital gera pouco emprego direto permanente. A
maioria do emprego direto criado é temporário e na fase de construção. Os
permanentes são na maioria indiretos. Apenas como referencia a poderosa indústria
de petróleo e petroquímica da Bahia reponde por 54% da produção industrial do
estado, mas apenas por 8,2% do emprego industrial.
Restam
as ligações para traz e para frente com a economia local. Aqui também os
benefícios são limitados. Não produzimos insumos relevantes para a refinaria,
principalmente petróleo, e a produção não vai alimentar indústrias locais já que
na sua maioria será diesel para exportação. A ligação para frente promissora
seria a partir de um polo petroquímico. Aqui um porém: o nordeste já possui um
grande polo na Bahia e Pernambuco está na frente na instalação de outro. Existe
espaço para um terceiro em negócio onde a escala é fundamental?
Nenhum comentário:
Postar um comentário