quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

FIM DE UM SONHO OU COMEÇO DE UM NOVO TEMPO?
Como encarar a decisão da Petrobras de encerrar o projeto da refinaria? Fim do sonho do desenvolvimento ou começo de um novo tempo e de uma nova estratégia econômica baseada no realismo e na sustentabilidade?
Em uma postagem recente defendi a ideia que é hora do estado refletir e desenhar uma nova estratégia de desenvolvimento. Nada mais simbólico e confirmador desse momento do que o anúncio do fim do projeto da refinaria. Sobre a refinaria publiquei um artigo no jornal O Povo onde argumentava que ela seria uma ilusão de desenvolvimento rápido e fácil.
Podemos perder no curto prazo, pois é inegável que a construção de uma refinaria implica em significativos investimentos, contratação de mão de obra, e geração de renda. Depois da fase da euforia da construção vem a fase da operação onde a agregação de valor é bem menor do que se imaginava e o passivo ambiental começa a apresentar sua conta. Basta olhar para o vizinho Pernambuco.
Nesse novo tempo precisamos entender que temos um grande ativo: um espaço logístico já pronto, dentro de uma ZPE já instalada e conectado a um porto competitivo em termos de custo e logística global. O que precisamos agora é de realismo, visão estratégica, ousadia e competência para bem utilizar esse espaço.
Em resumo perde a Petrobras que ia ganhar quase que de graça um espaço nobre e, potencialmente, ganha o estado se tiver competência para bem explorá-lo.


O QUE ESCREVEMOS NO PASSADO SOBRE A REFINARIA

Do ponto de vista econômico é interessante observar como a instalação de uma refinaria é disputada pelos estados. Talvez pela magnitude do investimento, na casa dos bilhões de dólares, e pelos milhares de empregos gerados em sua construção ela é vista como uma redenção para a economia local. Nos Estados Unidos é o contrário. Há mais de trinta anos que uma refinaria de porte não é construída e lá os estados fazem é cobrar compensações pelo investimento, principalmente ambientais e de segurança.
A Petrobras certamente vai ganhar muito com a instalação da refinaria com a oferta de área nobre no complexo industrial do Pecém e benefícios fiscais e de infraestrutura. O estado também vai ganhar, mas a questão chave é saber o tamanho dos benefícios e sua capacidade de alavancar nossa economia.
Imposto a refinaria praticamente não vai pagar, seja pela oferta de benefícios fiscais seja pela natureza de sua produção, combustíveis e derivados, que paga imposto no destino e não na origem ou não paga nada quando é exportado. Como é um investimento intensivo em capital gera pouco emprego direto permanente. A maioria do emprego direto criado é temporário e na fase de construção. Os permanentes são na maioria indiretos. Apenas como referencia a poderosa indústria de petróleo e petroquímica da Bahia reponde por 54% da produção industrial do estado, mas apenas por 8,2% do emprego industrial.

Restam as ligações para traz e para frente com a economia local. Aqui também os benefícios são limitados. Não produzimos insumos relevantes para a refinaria, principalmente petróleo, e a produção não vai alimentar indústrias locais já que na sua maioria será diesel para exportação. A ligação para frente promissora seria a partir de um polo petroquímico. Aqui um porém: o nordeste já possui um grande polo na Bahia e Pernambuco está na frente na instalação de outro. Existe espaço para um terceiro em negócio onde a escala é fundamental?

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